terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A ORIGEM DA ESPÉCIE HUMANA


Em 1974, o paleontólogo americano Donald Johanson e seus colaboradores descobriram um extraordinário fóssil de hominídeo na região de Afar, na Etiópia. O achado foi excepcional pois apresentava um esqueleto feminino quase completo, com parte do crânio e muito mais. Na noite seguinte à descoberta, a turma se reuniu para comemorar tomando uma biritas e ouvindo música dos Beatles. Logo, alguém teve a idéia de batizar o espécime com o nome Lucy ("in the sky with diamonds"). O nome científico do fóssil depois passou a ser "Australopitecus Afarensis", que quer dizer mais ou menos, "pequeno macaco sulista de Afar".
A idade de Lucy (o fóssil, é claro) foi determinada como 3,5 milhões de anos, aproximadamente. Para obter esse número foi feita a datação da camada basáltica onde o fóssil foi encontrado usando-se o método Potássio-Argônio. Para mais detalhes sobre essa técnica, veja a Apostila de Dona Fifi sobre a datação isotópica. Nos anos seguintes, Johanson e seus colegas acharam uma quantidade enorme de outros fósseis em Afar, tão antigos quanto Lucy e com as mesmas características. Com essa profusão de dados foi possível armar uma imagem bem precisa do A. Afarensis e chegar a conclusões que sumarizamos a seguir.

1) Lucy viveu naquela região há mais de 3 milhões de anos.
2) Ela e seus parentes andavam sobre dois pés - isto é, eram bípedes.
3) Sua altura aproximada era de 1,3 metros.
4) Seu crânio tinha um volume de 450 cm3. Para comparação, chimpanzés modernos têm crânios de 350 cm3 e nós temos crânios de 1500 cm3.
5) É possível, mas não é inteiramente seguro, que a espécie de Lucy esteja na linha ancestral que deu origem à nossa espécie, o "homo sapiens."

Qual era a aparência de Lucy? Ninguém sabe ao certo porque não existem fósseis de pele e pelos, normalmente. Uma representação artística de Lucy e um namorado, pintada no chutômetro mas com boa chance de corresponder ao real, resulta em algo como vemos ao lado.

Durante algum tempo, o A. Afarensis foi o fóssil de hominídeo mais antigo já descoberto. Hoje, porém, já conhecemos fósseis mais antigos que Lucy e outros mais recentes que permitiram montar um quadro da nossa evolução bem mais detalhado e complexo. A seguir, vamos dar algumas informações sobre essas descobertas, mas, recomendamos aos interessados que procurem ler os trabalhos que listamos nas Referências pois esse assunto é vasto e fascinante.
Em 1891, o pioneiro Eugene Dubois descobriu fósseis de um hominídeo na ilha de Java, no Pacífico Sul, que chamou de "Pithecantropus Erectus", isto é, "homem macaquinho que andava em pé". Hoje sabemos que essa espécie - e outras parecidas - viveu na Ásia há uns 500.000 anos e se extinguiu há cerca de 200.000 anos. Portanto, pela hipótese "Saindo da África", não somos descendentes desse pessoal.

Em 1924, Raymond Dart descobriu um pequeno crânio fossilizado no sul da África que ficou conhecido como o "bebê de Taung". Essa criatura era bem mais primitiva que o homem de Java e até hoje não se sabe se ela estava em nossa linha evolutiva ou não.
A partir de 1959, o casal Louis e Mary Leakey achou uma grande quantidade de fósseis de hominídeos na região de Olduvai, na Tanzânia. Além desses fósseis, acharam ferramentas de pedra e fósseis mais recentes que já pertenciam à espécie humana. Esse casal passou a vida na África e deu uma enorme contribuição ao nascente campo da paleoantropologia, estabelecendo definitivamente a África como berço da humanidade. Richard Leakey, filho do casal, e sua mulher Meave, continuam até hoje o trabalho pioneiro dos Leakeys, tanto no Kênia quanto na Tanzânia, com extraordinárias contribuições nesse ramo de pesquisa. E até a filha Louise, neta do casal pioneiro, continua a tradição da família de pesquisar as origens da humanidade.
O fóssil de hominídeo mais antigo achado até hoje foi descoberto em 2001, no deserto do Chade, na África Ocidental, por uma equipe liderada pelo francês Michel Brunet (será que é parente da Luiza?). Esse fóssil, visto na figura ao lado, é de um crânio datado de cerca de 7 milhões de anos e batizado de Toumai, que significa "esperança de vida" na língua do povo local. Brunet discorda de muitos colegas pois acha que não houve uma linha evolutiva única que chegou até nossa espécie, os humanos. Para ele, várias espécies pre-humanas, em tempos distintos, mas todas na África, se misturaram até dar origem à nossa espécie. Ele esteve recentemente no Brasil e anunciou que tem novos e importantes resultados, ainda não publicados, que são tão excitantes quanto o Toumai. Vamos ficar atentos.
Bem recentemente, em um número especial da revista Science de Outubro de 2009, Tim White e seus colaboradores relataram a descoberta e a análise de um espécime de hominídeo que viveu há mais de 4 milhões de anos na Etiópia. É o "Ardiphitecus Ramidus", provável ascendente do homo sapiens e mais primitivo que Lucy. Essa "Ardi", como o pessoal chamou, já andava sobre os dois pés mas ainda mantinha o costume de usar os punhos para se mover, de vez em quando, além de gostar de pular nos galhos de árvores. Portanto, uma legítima intermediária entre os símios e os humanos. Ao lado, uma representação artística de Ardi, como apresentada por seus descobridores. Reparem no comprimento dos braços e comparem com a figura de Lucy na figura já mostrada.

Como vemos, a busca de melhores informações sobre nossos antepassados continua intensa, o que é muito bom. Essa descoberta foi notícia de jornais e televisões do mundo todo, até do Jornal Nacional da Globo. Isso indica que o povão está curioso de conhecer sua árvore genealógica. .

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Crônica

A crônica é, primordialmente, um texto escrito para ser publicado no jornal. Este, como se sabe, é um veículo de informação diário e, portanto, veicula textos efêmeros. Um texto publicado no jornal de ontem dificilmente receberá atenção por parte dos leitores hoje.

O mesmo tende a acontecer com a crônica. O fato de ser publicada no jornal já lhe determina vida curta, pois à crônica de hoje seguem-se muitas outras nas próximas edições.

Há semelhanças entre a crônica e o texto exclusivamente informativo. Assim como o repórter, o cronista se alimenta dos acontecimentos diários, que constituem a base da crônica.

Entretanto, há elementos que distinguem um texto do outro. Após cercar-se desses acontecimentos diários, o cronista dá-lhes um toque próprio, incluindo em seu texto elementos como ficção, fantasia e criticismo, elementos que o texto essencialmente informativo não contém.

Com base nisso, pode-se dizer que a crônica situa-se entre o Jornalismo e a Literatura, e o cronista pode ser considerado o poeta dos acontecimentos do dia-a-dia.

A crônica, na maioria dos casos, é um texto curto e narrado em primeira pessoa, ou seja, o próprio escritor está "dialogando" com o leitor. Isso faz com que a crônica apresente uma visão totalmente pessoal de um determinado assunto: a visão do cronista.

Ao desenvolver seu estilo e ao selecionar as palavras que utiliza em seu texto, o cronista está transmitindo ao leitor a sua visão de mundo. Ele está, na verdade, expondo a sua forma pessoal de compreender os acontecimentos que o cercam.

Geralmente, as crônicas apresentam linguagem simples, espontânea, situada entre a linguagem oral e a literária. Isso contribui também para que o leitor se identifique com o cronista, que acaba se tornando o porta-voz daquele que lê.